O osimertinibe é um agente antineoplásico cujo mecanismo de ação envolve a inibição do receptor de tirosina-quinase. Está indicado para tratamento de pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células com teste positivo para mutação do receptor do fator de crescimento endotelial (EGFR). Seus efeitos adversos cardiovasculares mais significativos são prolongamento do intervalo QT e miocardiopatia. Uma paciente de 89 anos com antecedente de hipertensão arterial sistêmica e dislipidemia foi internada há 2 anos por insuficência cardíaca aguda após exposição a osimertinibe para tratamento de adenocarcinoma de pulmão. Após estabilização clínica, foi submetida a investigação diagnóstica. A cineangiocoronariografia indicou a presença de doença arterial coronária e lesão de artéria descendente anterior calcificada e excêntrica de 80% em terço médio e a ressonância magnética cardíaca evidenciou disfunção sistólica biventricular. O ventrículo esquerdo apresentava acinesia de todos os segmentos da parede inferior e inferolateral e hipocinesia importante das demais paredes (fração de ejeção de ventrículo esquerdo: 22%; fração de ejeção do ventrículo direito: 20%). Não foi submetida a angioplastia coronária e foi mantida em tratamento clínico devido a plaquetopenia associada a osimertinibe durante a internação. Após interrupção do tratamento com osimertinibe e início de terapia para insuficiência cardíaca com sacubitril-valsartana, bisoprolol, dapagliflozina e espironolactona, houve melhora importante dos sintomas (NYHA I). Após dois anos de tratamento medicamentoso otimizado, houve melhora da fração de ejeção de ventrículo esquerdo para 70%. A paciente não apresentou novas descompensações da insuficiência cardíaca após início do tratamento farmacológico e permanece clinicamente estável, em acompanhamento ambulatorial.