Introdução: A insuficiência cardíaca (IC) é uma síndrome complexa que está associada a elevada taxa de admissões hospitalares por intercorrências relacionadas à doença. Muitas evidências comprovam os benefícios da utilização de terapia otimizada com beta-bloqueador (BB), inibidor de neprilisina e do receptor de angiotensina (INRA), inibidor da enzima conversora de angiotensina (IECA) e de bloqueador do receptor de angiotensina (BRA) na redução de episódios de descompensação da doença, redução de internações e mortalidade. No entanto, alguns pacientes podem apresentar contra indicação ou não tolerar as classes recomendadas. Este trabalho teve como objetivo descrever a farmacoterapia prescrita na alta hospitalar para pacientes de um protocolo institucional de um hospital privado de alta complexidade da cidade de São Paulo. Métodos: Trata-se de um estudo transversal retrospectivo e descritivo no qual foram analisadas as prescrições de alta hospitalar de pacientes acompanhados pelo Protocolo de IC no período de 2019 a 2023. Os dados epidemiológicos, clínicos e de medicamentos foram coletados através do prontuário eletrônico e tabulados em planilhas do Excel. Resultados: Foram avaliadas 1077 internações de 522 pacientes. Destes, 361 (69,2%) eram do sexo masculino e a média de idade foi 76 anos (considerando a idade no momento da alta da primeira internação no período). Das internações analisadas, 807 (74,9%) possuíam prescrição de alta disponível, enquanto 270 (25,1%) foram excluídas devido à ausência da prescrição no sistema. Nas prescrições de alta analisadas 79% tinham algum BB, 19,3% IECA, 16,5% BRA e 14,1% INRA. Entre os 358 (44%) pacientes que receberam monoterapia, 198 (55%) apresentaram contraindicação para três classes de medicamentos, enquanto 89 (25%) não apresentaram contraindicação. Por fim, 107 (13,3%) pacientes não tinham nenhuma das classes farmacológicas analisadas na prescrição de alta, sendo que 45 (41%) destes tinham contraindicação para as quatro classes e 43 (40%) não possuíam contraindicação registrada no prontuário. Conclusões: Muitos pacientes receberam alta sem a combinação de pelo menos duas das classes farmacológicas recomendadas, e grande parte deles apresentava contraindicação para uma ou mais classes. Ressalta-se que pacientes sem prescrição dos medicamentos analisados no prontuário eletrônico podem ter recebido prescrições por outras vias, impossibilitando o acesso a essa informação.