Manejo odontológico de um paciente
com anomalia de Ebstein e déficit intelectual
A anomalia de Ebstein (AE) é uma cardiopatia congênita complexa e rara, uma vez que representa 0,4 a 1,07% de todas as cardiopatias congênitas. A AE consiste na displasia das válvulas septal e inferior da valva atrioventricular direita, e é associada a anormalidades como síndrome de Wolff-Parkinson-White, defeito do septo atrial, estenose pulmonar, displasia grave e disfunção variável dos folhetos da valva atrioventricular direita.
Paciente do sexo masculino, 23 anos, com AE comparece para atendimento odontológico de rotina. Durante a anamnese, a responsável relatou o diagnóstico de cardiopatia congênita de (AE) desde o nascimento com comunicação interatrial (CIA), histórico de meningite e crise epilética, déficit intelectual (DI) e autismo. Devido ao alto risco para endocardite infeciosa (EI), o paciente é atendido rotineiramente na clínica odontológica desde os 4 anos de idade. Ao exame físico extraoral nota-se anomalias em dígitos, e ao exame intraoral defeitos em esmalte dentário. Atualmente não faz uso de medicações. Apresenta alergia as medicações: butilbrometo de escopolamina, espasmolítico e dipirona sódica; diclofenaco potássio; ácido acetilsalicílico; bromidrato de fenoterol e brometo de ipratrópio.
O plano de tratamento consistiu na manutenção da condição periodontal e na realização de restaurações estéticas diretas, uma vez que houve melhora do ponto de vista comportamental. Frente a procedimentos dentais considerados invasivos, foi feita a administração de amoxicilina 2g, uma hora antes do atendimento. Outro fator importante foi o manejo comportamental do paciente durante o atendimento, com o uso de técnicas como iatrosedação e antecipação. O paciente segue em atendimento em nossa clínica e em programação para realização de correção valvar.
O atendimento de pessoas com DI e cardiopatias congênitas pode ser muito desafiador, principalmente se houver prejuízos na comunicação e compreensão, podendo ser um obstáculo durante as orientações em relação a higiene oral e cardiológica do indivíduo. Para atender às necessidades médicas e psicossociais desses pacientes, um tratamento completo e individualizado requer uma abordagem multidisciplinar.