Introdução: A Insuficiência Aortica (IAo) é a terceira doença valvar mais prevalente e seus números aumentam pelo envelhecimento da população. O prognóstico é desfavorável, com alta taxa de mortalidade naqueles em tratamento conservador. O tratamento cirúrgico de troca valvar é o tratamento de escolha para IAO grave, conforme definido pelas diretrizes da American Heart Association e da European Society of Cardiology. No entanto, em pacientes de alto risco que não podem ser submetidos à cirurgia convencional, há a necessidade de um procedimento menos invasivo. O sucesso do implante percutâneo de valva aórtica (TAVI) impulsionou a exploração do TAVI em outros cenários, se tornando uma abordagem alternativa e “off-label” para esse grupo. Nos principais estudos que consolidaram o TAVI, os pacientes com IAo pura foram excluídos, uma vez que a ausência de calcificação anular e de folheto, dificultavam a técnica. Estudos publicados comparando o TAVI e cirurgia convencional em IAo são conflitantes e não estão bem definidos. Relato: Paciente masculino, 86 anos, de baixo peso, portador de doença renal crônica estágio IIIB, fibrilação atrial, histórico de troca mitral biológica em 2018 e IAo grave, evolui com piora da dispneia ao repouso, apesar de tratamento clínico otimizado. Apresentava ecocardiograma com sinais de hipertrofia excêntrica, fração de ejeção reduzida (35%), dilatação anular aórtica e regurgitação grave. Por ser de alto risco cirúrgico e após discussão multidisciplinar, optou-se pelo TAVI. Foi submetido ao implante de prótese não dedicada balão expansível número 32, porém apresentou bloqueio átrio ventricular total em intraoperatório, sendo necessário implante de marca passo definitivo durante internação. Recebeu alta hospitalar sem outras complicações e com melhora da classe funcional. Discussão e conclusão: Não há estudos randomizados que validem TAVI em IAO puro, no entanto, pacientes de alto risco cirúrgico e refratários ao tratamento clínico, podem se beneficiar do tratamento percutâneo. As principais complicações esperadas são os bloqueios do sistema de condução, embolização ou mau posicionamento da prótese. O uso de próteses dedicadas à IAo, que foram desenvolvidas para implantes em válvulas não calcificadas, ancoradas no anel aórtico e clipando os folhetos nativos, podem otimizar resultados e reduzir riscos. A abordagem percutânea com dispositivos não dedicados também pode ser uma alternativa viável e segura em pacientes com anatomia adequada e tamanhos anulares compatíveis, quando realizada em centros experientes.