INTRODUÇÃO: Distúrbios cardiovasculares surgem como principais fatores de morbi-mortalidade em pacientes oncológicos. O vasoespasmo coronariano é frequentemente relatado, podendo anteceder episódios de isquemia miocárdica ou infarto do miocárdio. Nesse contexto, existem quimioterapias (QT) conhecidas por sua cardiotoxicidade (CTx), destacando-se o 5-fluorouracil (5-FU) e seu pró-fármaco oral, a capecitabina, utilizados na terapêutica de carcinomas como trato gastrointestinal e mamário. A incidência de CTx associada ao 5-FU é de 0,6% a 19% dos pacientes. Alterações nas ondas ST-T são observadas em 65% dos casos e enzimas cardíacas elevadas apenas em 7%. A CTx sintomática é motivo de maior vigilância clínica e de tratamento individualizado, sendo o acompanhamento do cardio-oncologista fundamental.RELATO DE CASO: Paciente sexo feminino, 56 anos, hipertensa prévia, com diagnóstico de adenocarcinoma gástrico em setembro de 2023. Na abordagem inicial, foi prescrita QT, sob esquema FLOT, sendo o 5-FU uma das medicações utilizadas. No primeiro dia de infusão apresenta dor torácica típica, sendo encaminhada ao pronto-socorro. Na admissão o eletrocardiograma (ECG) apresentava infarto agudo do miocárdio com supra de ST da parede anterior e cateterismo cardíaco sem obstruções coronarianas. Após estabilização, houve a suspensão do 5-FU e direcionada a avaliação da cardio-oncologia. Durante seguimento, ECG: taquicardia sinusal e ecocardiograma transtorácico: fração de ejeção de 74% e disfunção diastólica tipo I. Para o manejo inicial do vasoespasmo, foi optada pela introdução de Anlodipino. Paciente segue em acompanhamento multidisciplinar, assintomática. DISCUSSÃO:A CTx por fluoropirimidinas, embora não tão clara, é atribuída a mecanismos como vasoconstrição, toxicidade miocárdica direta, disfunção endotelial e estado pró coagulante. Os fatores de risco são: idade avançada, hipertensão e dislipidemia. Assim, destaca-se a importância da cessação temporária ou definitiva do regime quimioterápico e da realização de terapia sintomática com agentes antianginosos diante da manifestação de CTx aguda. Ademais, pondera-se o risco associado à recorrência de sintomas cardíacos na eventual readministração de 5-FU. CONCLUSÃO: A CTx demanda vigilância, por seu papel imprevisível e potencialmente grave. Uma estratificação de risco para doença arterial coronariana nesses pacientes pode ser necessária, sendo o seguimento multidisciplinar, entre cardio-oncologistas e oncologistas, essencial.