CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A NÃO SUSPENSÃO DE ANTICOAGULANTES PARA REALIZAÇÃO DE EXODONTIA EM IDOSOS: RELATO DE CASO.
O atendimento odontológico ao idoso é extremamente complexo pois envolve conhecimento sobre a associação de diversas doenças sistêmicas, polifarmácia, senescência e a avaliação do contexto psicossocial para determinar o melhor plano de tratamento. Quando há uso de medicamentos anticoagulantes, o planejamento cirúrgico passa a ter critérios específicos, aumentando o nível de complexidade da abordagem. Homem, de 77 anos, hipertenso, diabético, com doença de Alzheimer e histórico de Acidente Vascular Cerebral, em uso de anti-hipertensivos, diuréticos, estatina, antidiabético e Rivoroxabana, um anticoagulante oral direto (DOAC), morador de uma instituição de longa permanência, queixou-se de dor de dente para os cuidadores. Em avaliação odontológica, observou-se paciente contactante, colaborativo e dependente dos cuidadores para as atividades básicas de vida. Ao exame físico intra-oral, observou-se dentição parcial superior e inferior, primeiro molar inferior direito (#46) com mobilidade grau 2 de 3 graus e dor à manipulação, acúmulo de cálculo supragengival, placa bacteriana e detritos alimentares em ambos arcos. Em exame radiográfico, foi possível observar envolvimento de furca grau 3 de 3 graus no #46. Após a raspagem periodontal, foi optado por realizar a exodontia do #46, já que a raspagem não foi o suficiente para controlar a dor na região. A exodontia foi realizada às 13:30 horas, sendo que a próxima dose da Rivoroxabana seria às 15 horas. Devido a isso, solicitamos que o medicamento fosse administrado atrasado às 18 horas ao invés da sua suspensão. O procedimento foi realizado com técnica minimamente invasiva, com uso de ácido tranexâmico intra-alveolar e sutura com fio não absorvível. A cirurgia não apresentou intercorrências e o pós-operatório foi satisfatório. Já está bem esclarecido na literatura que para exodontias simples não é necessário a suspensão de anticoagulantes. No entanto, na prática clínica, sabemos que infelizmente a tomada de decisão médico-odontológica nem sempre é a esperada, principalmente em relação aos DOAC’s em pacientes idosos. Neste caso, foi necessária uma conversa multiprofissional entre o dentista, médico e responsável da instituição para que confiassem na abordagem cirúrgica sem a suspensão da Rivoroxabana. Conclui-se que, apesar das comprovações científicas, ainda há um longo percurso para que a exodontia simples sem a suspensão de anticoagulantes passe a ser considerada segura aos olhares leigos.