Introdução: A válvula aórtica bicúspide (BAV) ocorre em até 6% dos pacientes com estenose aórtica importante. Sua presença pode refletir um desafio para TAVI uma vez que pacientes com BAV podem possuir maiores diâmetros do anel valvar, calcificação acentuada dos folhetos e dilatação da aorta ascendente. O número crescente de TAVI nessa população torna imperativo um aprofundamento na investigação de seus resultados e desfechos clínicos.
Métodos: Retrospectivo, unicêntrico e observacional. Realizamos uma revisão de banco de dados e selecionamos pacientes submetidos a TAVI no período de novembro de 2020 a janeiro de 2024. O objetivo deste estudo é avaliar a incidência e resultados imediatos na população com BAV comparativamente aos pacientes com valva tricúspide. Para isso, foram coletados dados clínicos e demográficos, bem como informações sobre complicações e desfechos intrahospitalares após TAVI em ambas as populações, segundo o VARC 3. A análise dos dados foi realizada utilizando estatística descritiva e comparativa (Teste T de Student), com intuito de verificar se há diferenças significativas em desfechos entre as populações.
Resultados: De um total de 174 pacientes, 33 deles apresentaram BAV, resultando em uma incidência de 18,96%. A análise estatística não evidenciou diferença significativa nos dados de base de ambas as populações. Média de idade entre o grupo BAV (75,84 ± 8,19 anos) e o grupo tricúspide (78,61 ± 6,32 anos), com um p-valor não significativo de p 0,243. O STS score médio foi de 3,14 ± 1,86% no grupo BAV e 3,47 ± 1,97% no grupo tricúspide; p 0,12. Em relação ao procedimento, houve diferença significativa na necessidade de pré-dilatação entre os grupos, sendo necessária em 25 dos 33 casos de bicúspide (75,75%) e 71 dos 141 casos de tricúspide (50,35%) (p 0,008). Porém, não foi evidenciada diferença significativa no gradiente ventrículo esquerdo e aorta pós-procedimento de 4,53 ± 3,04 vs 5,33 ± 4,46; p 0,233, de bicúspide e tricúspide respectivamente; nem no tempo de permanência hospitalar pós procedimento 2,63 ± 2,11 vs 3,03 ± 4,29; p 0,439. Não foi observado também diferença significativa em relação a necessidade de marcapasso definitivo, refluxo paravalvular ou complicações hemorrágicas e vasculares.
Conclusão: Com base nos resultados, não foi observada diferença significativa nos desfechos entre os pacientes com BAV e tricúspide. Estes achados sugerem que a TAVI é um tratamento seguro e eficaz para pacientes com BAV. No entanto, são necessários estudos adicionais com amostras mais amplas para confirmar esses resultados.