Introdução: A via transfemoral (TF) sempre foi a preferencial para a realização do implante transcateter de bioprótese aórtica (TAVI), com progressiva adoção da abordagem arterial percutânea (AAP) em detrimento da dissecção cirúrgica. Dados relativos a complicações vasculares em nosso meio são escassos. Os objetivos desse estudo foram avaliar a incidência e evolução das complicações vasculares maiores (CVM) intra-hospitalares após TAVI no registro multicêntrico brasileiro (RIBAC-NT), bem como seus preditores e impacto prognóstico.
Métodos: Estudo de corte retrospectivo com 3188 pacientes submetidos a TAVI do RIBAC-NT entre 2009 e 2021 com a realização de curva histórica de incidência de CVM. Dados clínicos, ecocardiográficos, do procedimento e do seguimento foram avaliados de acordo com a ocorrência ou ausência de CVM de acordo com o Valve Academic Research Consortium 2.
Resultados: Os pacientes com CVM apresentavam maior prevalência de mulheres (64,8% vs 47,5%, p<0,01), doença cerebrovascular (DCV) prévia (19,4% vs 10,9%, p<0,01), doença vascular periférica (20,4% vs 13,8%, p<0,01) e pacientes que apresentavam escore Euroscore II maior (5,8 vs 4,45%, p=0,01). Além disso, no grupo CVM a anestesia geral foi mais frequente (70,9% vs 60,2%, p=0,01), menor proporção de acesso percutâneo exclusivo (78,1% vs 82,1%, p<0,01) e menor taxa de implante de próteses de nova geração (49,0% vs 61,0%, p<0,01). Pacientes com CVM apresentaram mais desfechos do tipo conversão para cirurgia cardíaca aberta (16,8% vs. 1,1%, p<0,01), necessidade de segunda prótese (4,6% vs 1,9%, p=0,01), ruptura de anel (4,1% vs. 0,2%, p<0,01), tamponamento cardíaco (29,6% vs. 0,8%, p<0,01), morte no procedimento (28,1% vs. 1,9%, p<0,01) e morte no período intra-hospitalar (36,2% vs. 4,1%, p<0,01). Idade, sexo feminino, DCV prévia e creatinina foram preditores independentes de CVM e prótese de nova geração foi preditor de proteção para CVM na análise multivariada (todos com P<0,05). A ocorrência de CVM associou-se à maior mortalidade intra-hospitalar (P<0,001). Ao longo do tempo nota-se significativa redução das taxas de CVM (figura 1; p<0,05).
Conclusão: Apesar da incidência de CVM estar diminuindo ao longo do tempo no registro, a sua presença tem impacto negativo significativo nos desfechos intra-hospitalares, incluindo maior mortalidade. Seus principais preditores de risco foram aumento da idade/creatinina, sexo feminino e presença de DCV sendo que a utilização de próteses de nova geração de menor perfil associou-se a significativa redução em sua incidência.