Introdução: Pacientes com insuficiência cardíaca (IC) aguda são atendimentos frequentes em unidades de emergência. Alguns destes estão em perfil hemodinâmico C e necessitam internação, mas muitos estão em perfil hemodinâmico B, sem dispneia grave em repouso e sem limitação de movimentação, recebem diurético endovenoso e tem alta, quase todos sem programação de reavaliação a curto prazo. A compensação ambulatorial em Centro de Infusão com uma ou duas visitas semanais para administração de diuréticos de alça EV, ajuste terapêutico, monitorização, orientação sobre restrição de líquidos e medicação correta pode ser uma alternativa válida para a compensação destes pacientes.
Métodos: Foram avaliados retrospectivamente os pacientes com IC aguda perfil B, tratados em regime ambulatorial em Centro de Infusão e Hospital Dia. O objetivo principal foi identificar o sucesso dessa abordagem na compensação do paciente. Os critérios de inclusão foram o diagnóstico de IC aguda perfil B e concordância em participar desta modalidade de tratamento. Foram excluídos aqueles com insuficiência renal terminal ou sinais de baixo débito. As intervenções seguiram a sistematização da terapêutica, com avaliação clínica e laboratorial dos pacientes. Foram coletados clínicos e parâmetros laboratoriais e de exames de imagem.
Resultados: Dos 121 pacientes com IC aguda, 83 tinham IC com fração de ejeção reduzida (ICFEr - média da fração de ejeção do VE [FEVE] = 28%), 19 com IC com fração de ejeção preservada (ICFEp - com média da FEVE = 53%) e 19 com valvopatia primária não corrigida. A idade média foi de 60,6±13,6 anos e 59% eram homens. A idade foi maior na ICFEp que na ICFEr mas sem significado estatístico (59 vs. 65 anos, p =0,12), a função renal foi semelhante entre os grupos e o BNP médio significativamente maior nos pacientes com ICFEr do que nos com ICFEp (1450,6 vs. 458,1 mg/dL p=0,01). A taxa de sucesso na compensação foi de geral foi de 68%, sendo de 67% nos pacientes com ICFEr, 83% nos com ICFEp e 58% nos valvares, sem diferença estatística entre os grupos (p=NS). Durante e após compensação, 22% dos pacientes faleceram num período de 15 dias a 4,4 anos.
Conclusão: A compensação da IC aguda em regime ambulatorial em Centro de Infusão e Hospital Dia teve sucesso em 68%, havendo tendência a ser maior nos pacientes com ICFEp (83%). A mortalidade durante e após a compensação foi de 22% em até 4 anos.
Limitação do estudo: trata-se de um estudo retrospectivo e a amostra limitada de pacientes com ICFEp e valvares pode ter interferido na análise da diferença estatística.