Introdução: A hipertrofia ventricular esquerda está associada à maior risco de arritmias ventriculares potencialmente malignas e, é um fator de risco para morte súbita em pacientes com miocardiopatia hipertensiva e hipertrófica (MCH). O ecocardiograma é o padrão ouro para a determinação dessa variável pois detecta anatomicamente o aumento da massa muscular. O eletrocardiograma é uma ferramenta de investigação disponível no consultório médico. A duração do intervalo entre o início da onda Q e o pico da onda T por essa técnica, avalia o processo de despolarização até o final da repolarização do epicárdio e pode refletir assim, o remodelamento elétrico cardíaco, antes mesmo que se estabeleça a hipertrofia ao ECO. Estudos clínicos indicam que esse intervalo quando maior que 350 ms associa-se a maior grau de hipertrofia ventricular esquerda em hipertensos.
Objetivo: Avaliar se o intervalo QTpico na derivação D1 é capaz de estimar a massa ventricular esquerda em pacientes com MCH.
Métodos: 55 pacientes (24 ♀, 31 ♂; média de idade 38±14 anos, variando entre 12 e 61 a) foram consecutivamente avaliados em ambulatório de Miocardiopatias, quando tiveram registrados o ECG e submetidos ao ECO bidimensional para confirmação diagnóstica de MCH. Considerou-se aumento da massa de VE valores ≥95 g/m2 em ♀ e ≥115 g/m2 em ♂. Foram obtidos os valores dos intervalos QT, QTc, QTpico e QTpicoc na derivação D1. Com os valores das medidas foi obtida a curva ROC para se determinar a sensibilidade, especificidade e área sob a curva, além da razão de chances positiva e negativa considerando-se um valor de 350 ms para se estimar a massa a indexada do VE. Considerou-se essa associação quando os valores P < 0,05.
Resultados: A duração média das variáveis do ECG foram: QT 425±50 ms (variando entre 300 e 520 ms); QTc de 450±46 ms (350 a 638 ms); QTpico foi 333±43 ms (236 a 427 ms); QTpicoc de 349±36ms (275 a 471 ms). A média da massa estimada do VE foi de 178±57 g/m2 (73 a 371 g/m2). Quando se obteve a curva ROC, a sensibilidade e especificidade do intervalo QTpicoc foram de 52,4% e 81,5% respectivamente, (razão de chances positiva de 2,83 e negativa de 0,58) para se estimar a massa de VE > 199 g/m2 (c=0,665; p<0,03).
Conclusões: 1. O intervalo QTpicoc na derivação D1 apresenta moderada capacidade para detectar a massa ventricular esquerda em pacientes com MCH; 2. Essa variável pode ser útil para se estimar a gravidade da MCH, particularmente considerando-se a disponibilidade e a grande utilidade do eletrocardiograma no consultório médico.